quinta-feira, 9 de junho de 2011

Qual a razão de haver tantas separações e divórcios?

Os factores que mantinham o casal e a família unidos estão enfraquecidos. Muitos casais separam-se ao fim de poucos meses de casamento, mas também há os que se separam ao fim de 30 anos.

É por isso que a terapia de casal está a tornar-se importante. No entanto, tenho a impressão que muitos psicólogos estão a escolher um caminho errado. Põem-se a revolver o passado infantil dos pacientes para encontrar a causa dos conflitos que vivem no presente. Interrogam--se sobre os conflitos que viveram com o pai ou com a mãe. Eu, pelo contrário, tenho a impressão que o êxito ou o fracasso da relação deve ser procurado no próprio percurso amoroso.

É por isso que devemos conhecer bem o processo que leva à formação de um casal apaixonado estável, a fisiologia do processo amoroso. Na medicina, primeiro estuda-se a fisiologia e só depois a patologia, porque esta segunda é uma alteração do estado fisiológico. O casal normal nasce da paixão mútua, que evolui e se transforma em amor. No enamoramento verdadeiro, apaixonamo-nos por uma pessoa que, com o seu comportamento, os seus sentimentos, o seu aspecto, os seus valores, a vida que viveu, com o prazer que nos faz sentir, nos faz acreditar que em conjunto poderemos concretizar os nossos desejos mais profundos, desenvolver as nossas potencialidades e construir uma unidade social feliz.

No entanto, estas potencialidades vão-se concretizando na relação dia após dia, e são sempre possíveis erros e incompreensões. Vejamos alguns exemplos típicos.

Afinal não estavam realmente apaixonados, era só um capricho passageiro. Outras vezes só um estava apaixonado e o outro deixou-se simplesmente arrastar. Também há casos em que um mantém uma ferida aberta por um amor anterior. Muitos não contaram de forma sincera e com sensatez os seus amores anteriores e o outro fica com a impressão de estar com um desconhecido. Outros foram feridos ou ofendidos. Muitos não sabem que o amor exige que se diga a verdade, é alimentado por um namoro contínuo e a infidelidade, mesmo quando não é descoberta, é sempre destrutiva. Há quem esteja convencido, erradamente, de que a pessoa que ama é capaz de adivinhar os seus desejos mais íntimos, sem que seja preciso revelar-lhos. Outros sentem-se no direito de modificar o modo de pensar do outro, quando a essência do amor é o respeito pela sua liberdade. Por fim, muitos estão convencidos de que o amor é tanto mais forte quanto mais os dois se assemelharem, quando na realidade ele se renova no fascínio pela diversidade e na descoberta contínua do diferente e do novo.

Francesco Alberoni, 25JAN2011